Educação a Distância: acesso ao ensino ou acesso à aprendizagem?

Como você, enquanto educador, percebe a Educação à Distância? 

Há educadores que a vêem como uma ameaça, como um risco de perderem espaço no mercado de trabalho. Porém, felizmente, para muitos outros (como eu, pós-graduanda via EAD) a Educação à Distância é uma oportunidade ímpar na busca constante de atualização/aperfeiçoamento.

Silvestre Novak, doutorando em Educação, com pesquisa em Educação a distância nos convida a fazer uma análise diferenciada da EAD. 


O texto que segue foi transcrito, literalmente, do site da UFRGS/SEAD, na seção "Momento EAD" (http://paginas.ufrgs.br/sead/momento-ead/educacao-a-distancia)

A Educação a Distância, desde suas origens, tem como mote principal o acesso ao ensino, um compromisso que se renova como o passar das gerações e que se mantém vivo em nossos dias. Com efeito, a modalidade consolidou-se, ao longo da história, tendo como missão primordial propiciar conhecimento às populações localizadas longe dos grandes centros educacionais, impossibilitadas de frequentar os cursos presenciais.
Mais recentemente, a questão do acesso ao ensino assumiu novas conotações, determinadas tanto pela complexificação da sociedade contemporânea como também pelas transformações introduzidas pela informática na educação.
Assistimos hoje um movimento de rápida expansão da EAD, onde o conceito originário, que cunhou a denominação da própria modalidade – educação a distância – parece não se mostrar mais suficiente para dar conta dos desafios contemporâneos que se colocam ao ensino não presencial.
Ao lado de sua vocação tradicional, de superar limitações de ordem geográfica, impõe-se o desafio de promover a inclusão educacional de um importante segmento social, alijado do ensino presencial em função das dificuldades de compatibilização do tempo. Com essa nova realidade, a expressão a distância incorpora um sentido de mediação espaço-temporal, passando a definir o conceito de ensino mediado.
A crescente procura por cursos a distância por parte de alunos que residem nos grandes centros sugere que a missão original da EAD, consagrada ao longo do tempo, de viabilizar o acesso ao ensino, em função do espaço, propicie também o acesso em função do tempo. De outra parte, o aluno que reside distante das instituições de ensino também têm enfrentado dificuldades relacionadas com a organização do tempo, requerendo maior flexibilidade nos horários de estudos.
Analisando sob essa perspectiva, compreende-se a importância do papel das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na Educação a Distância, na medida em que tornam possível a efetiva mediação espaço/temporal das ações de ensino e aprendizagem, como propulsora dessa modalidade de ensino, explicando, de certa forma, o fenômeno contemporâneo de sua rápida expansão.
Fortalecida por transformações socioculturais e tecnológicas, a Educação a Distância está sinalizando alternativas ao esgotamento de modelos educativos inspirados em concepções de ensino e aprendizagem excessivamente dependentes da presença do educador, em espaços definidos e em tempos rígidos. Certamente o surgimento de projetos educativos inovadores e a superação do preconceito quanto à modalidade de ensino representam duas importantes contribuições para modificação desse cenário.
As experiências desenvolvidas têm demonstrado que não só é possível desenvolver Educação a Distância com qualidade, como a qualidade do ensino tem sido a principal aliada na evolução e expansão da modalidade. Ainda que a qualidade do ensino não seja determinada pela modalidade – presencial ou a distância –, como é consenso entre especialistas, sabe-se que para alcançar a excelência acadêmica na EAD baseada nas TICs, as possibilidades tecnológicas necessitam ser exploradas adequada e efetivamente através de bons projetos pedagógicos. Como consequência – à guiza de efeito colateral positivo – a EAD da era digital está promovendo a renovação da reflexão pedagógica, potencializando o trabalho cooperativo e colaborativo, retomando as discussões conceituais de ensino e aprendizagem, e do papel dos diferentes partícipes nos processos educativos, valorizando os enfoques epistemológicos.
Esse processo, que se caracteriza como um amadurecimento da modalidade, credencia as tecnologias de EAD como importante aliada do ensino presencial, ao promover a reestruturação de disciplinas tradicionalmente ministradas face a face, em ambientes virtuais de aprendizagem. Ao disponibilizar novos recursos e instrumentos, a organização do ensino on-line tem favorecido os processos educativos, permitindo lidar com novos objetivos educacionais e novos perfis de estudantes.
A efetiva contribuição para o aprimoramento dos processos de ensino e aprendizagem tem levado a EAD da era digital a ser vista em todo seu potencial, como fonte de inovação. A cada dia, mais instituições de ensino aderem à educação a distância, mais professores participam de projetos nessa modalidade, e, consequentemente, mais alunos se defrontam com o dilema e as peculiaridades da aprendizagem não presencial. Não obstante, cabe enfatizar, o acesso aos programas educacionais, via ingresso em cursos a distância, baseado nas TICs, constitui um primeiro passo em direção à aprendizagem on-line, além da aprendizagem dos conteúdos específicos.
Na medida em que a expansão da EAD está relacionada com o intenso uso das TICs, o fenômeno traz à tona a questão do acesso em diferentes níveis: o acesso dado pela disponibilidade de recursos tecnológicos; o acesso dado pela apropriação e o domínio das linguagens e processos informacionais; e o acesso dado pelo desenvolvimento de habilidades e competências pedagógicas no âmbito do “aprender a distância”, através das interações nos ambientes virtuais de aprendizagem. Assim, o desempenho dos alunos em cursos a distância baseado nas TICs pressupõe distintos níveis de acesso, abrangendo infraestrutura tecnológica, alfabetização digital e domínio de processos específicos próprios da aprendizagem on-line.
Ainda que o aluno disponha dos recursos materiais necessários, conheça e domine os recursos tecnológicos, se defrontará com a necessidade de conhecer e dominar linguagens e processos específicos da educação a distância virtual, implicando na necessidade de desenvolvimento de novas habilidades e competências, que possibilitem o acesso pedagógico. São os investimentos efetivados nesse campo que determinarão, em última instância, a diferença entre “estudar a distância” e “aprender a distancia”. Por essa simples razão, os cursos a distância prevêem disciplinas iniciais voltadas para a instrumentalização para a EAD.
Em conclusão, a educação a distância da era digital, ao se colocar como possibilidade de acesso à educação, coloca a questão do acesso como um problema imanente à modalidade de ensino, onde o desafio maior consiste na aprendizagem do “aprender a distância”, que implica em aprender a interagir virtualmente, não somente do ponto de vista mecânico-operacional, mas do ponto de vista cognitivo, da construção do conhecimento e de novas aprendizagens, colaborativamente, mediante processos interativos a distância.
No entanto, não nos surpreendamos se, no futuro, a opção pela EAD se fizer não mais somente em função da flexibilização dos espaços/tempos, mas em função dos níveis de acesso que esta venha potencializar, em termos de aprendizagens significativas.
Silvestre Novak**
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* Texto publicado no Site da Secretaria de Educação a Distância da UFRGS, no endereço www.ead.ufrgs.br, em 30 de setembro de 2009.

** Silvestre Novak é Vice-Secretário de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; especialista em Avaliação pela Universidade de Brasília/Cátedra UNESCO de Educação; mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na área de Psicopedagogia, Sistemas de Ensino e Aprendizagem, com foco em EAD; e doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com pesquisa em Educação a Distância.

Um comentário:

  1. Se sou formado hoje, devo a Educação a Distância. E sem essa modalidade, nunca que conseguiria sem um Professor que sou hoje! Pois trabalhava muito e não dava para conciliar as duas coisas.

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